terça-feira



































Exércitos secretos da NATO ligados ao terrorismo?

Daniele Ganser
Nota do editor: Este relatório escrito por Daniele Ganser está baseado em excertos do seu livro recentemente editado, "NATO’s Secret Armies".
"Operation Gladio and Terrorism in Western Europe" [Os exércitos secretos da NATO. Operação Gládio e terrorismo na Europa ocidental], lançado por Frank Cass em Londres.

O livro descreve as operações clandestinas da NATO durante a Guerra Fria. A investigação foi despoletada por uma história que fez as manchetes do mundo em 1990, mas que desapareceu rapidamente, assegurando que mesmo hoje em dia os exércitos secretos da NATO permaneçam isso mesmo – secretos. Até agora, uma investigação total dos exércitos secretos da NATO não foi levada a cabo – uma tarefa que Ganser empreendeu sozinho e com bastante sucesso.
Em Itália, a 3 de Agosto de 1990, o então primeiro¬ ministro Giulio Andreotti confirmou a existência de um exército secreto com o nome de código “Gládio” – a palavra latina para “espada” – no âmago do estado.
O seu testemunho ante o sub comité do Senado que investigava o terrorismo em Itália provocou ondas de choque no parlamento italiano e no público, à medida que se erguia a especulação de que um exército secreto tinha possivelmente manipulado a política italiana por intermédio de actos de terrorismo. Andreotti revelou que o exército secreto Gládio tinha estado camuflado no interior do Ministério da Defesa como uma subsecção do serviço secreto militar, o SISMI.
O general Vito Miceli, um antigo director do serviço secreto militar italiano, mal podia crer que Andreotti tinha levantado o segredo, e protestou: «Fui para a prisão porque não quis revelar a existência desta organização super secreta. E agora Andreotti vem e diz tudo ao parlamento!».
De acordo com um documento compilado pelo serviço secreto militar italiano em 1959, os exércitos secretos tinham um propósito estratégico duplo: primeiramente, operar como um designado grupo “de recta¬guarda” no caso de uma invasão soviética e conduzir uma guerra de guerrilha em territórios ocupados; em segundo lugar, conduzir operações domésticas em caso de “situações de emergência”.

As percepções dos serviços secretos militares do que constituía uma “emergência” estavam bem definidas na Itália da Guerra Fria e tinham o seu foco na força crescente dos Partidos Comunista e Socialista italianos, ambos acusados de enfraquecer a NATO “de dentro”.
Felice Casson, um juiz italiano que no curso das suas investigações sobre terrorismo de direita tinha sido o primeiro a descobrir o exército secreto Gládio e tinha forçado Andreotti a tomar uma posição, descobriu que o exército secreto se tinha ligado a terroristas de direita em ordem a enfrentar “situações de emergência”.
Os terroristas, fornecidos pelo exército secreto, levaram a cabo ataques à bomba em locais públicos, atribuíram¬ nos à esquerda italiana, e foram posteriormente protegidos de acusações pelo serviço secreto militar. «Era preciso atacar civis, o povo, mulheres, crianças, pessoas inocentes, pessoas desconhecidas muito afastadas de qualquer jogo político», o terrorista de direita Vincezo Vinciguerra explicou a chamada “estratégia de tensão” a Cassen.
«A razão era muito simples. Destinavam¬ se a forçar estas pessoas, o público italiano, a voltar-se para o estado e pedir maior segurança. Esta é a lógica política que está por trás de todos os massacres e ataques à bomba que permanecem sem punição, porque o estado não se pode condenar a si próprio ou declarar-se a si próprio responsável pelo que aconteceu».

NENHUM COMENTÁRIO DA NATO OU DA CIA
Quão fortemente a NATO e os serviços secretos dos EUA defenderam e apoiaram o uso do terror em Itália em ordem a desacreditar a esquerda política durante a Guerra-fria permanece objecto de contínua investigação.
O general Gerardo Serravalle, que tinha comandado o exército secreto italiano Gládio de 1971 a 1974, confirmou que o exército secreto «podia passar de uma lógica defensiva, pós-invasão, a uma de ataque, de guerra civil».
O senado italiano escolheu ser mais explícito e concluiu na sua investigação em 2000: «Aqueles massacres, aquelas bombas, aquelas acções militares foram organizados ou promovidos ou apoiados por homens no interior das instituições do estado italiano e, como foi descoberto mais recentemente, por homens ligados a estruturas dos serviços secretos dos Estados Unidos».
Desde a descoberta dos exércitos secretos da NATO em 1990, a investigação em exércitos de retaguarda progrediu apenas muito lentamente, devido ao muito limitado acesso a fontes primárias e à recusa tanto da NATO como da CIA em comentar.
A 5 de Novembro de 1990, um porta-voz da NATO disse a uma imprensa inquiridora: «A NATO nunca contemplou a guerra de guerrilha ou operações clandestinas». No dia seguinte, oficiais da NATO admitiram que a negação do dia anterior tinha sido falsa, acrescentando que a aliança não comentaria assuntos de segredo militar.
A 7 de Novembro, o oficial militar mais graduado da NATO na Europa, o Supremo Comandante Aliado da Europa (SACEUR), o general dos EUA John Galvin, juntamente com o mais importante funcionário civil, o secretário-geral Manfred Wörner, informaram os embaixadores da NATO à porta fechada. «Como esta é uma organização secreta, não esperaria que muitas questões fossem respondidas», raciocinou um diplomata veterano da NATO, que desejou permanecer anónimo.
«Se existiram quaisquer ligações a organizações terroristas, esse tipo de informação seria de facto enterrada muito profundamente».

O antigo director da CIA William Colby confirmou nas suas memórias que o estabelecimento dos exércitos secretos na Europa ocidental tinha sido «um importante programa» para a CIA.
O projecto começou após a II Grande Guerra em total secretismo, e o acesso à informação estava limitado «à mais pequena capelinha possível das pessoas mais confiáveis, em Washington, na NATO» e nos países concernentes.
Contudo, quando em Itália em 1990 o antigo director da CIA, o almirante Stansfield Turner foi questionado na televisão sobre o Gládio, recusou terminantemente responder a quaisquer questões sobre o sensível assunto, e quando o entrevistador insistiu a respeito das vítimas do terrorismo, Stansfield arrancou zangado o seu microfone e gritou: «Eu disse, nenhuma questão sobre o Gládio!», depois do que a entrevista acabou.

PROTESTOS DA EU
Se tivesse havido uma invasão soviética, os soldados secretos anti-comunistas teriam operado por trás das linhas inimigas, fortalecendo e estabelecendo movimentos de resistência locais em território ocupado pelo inimigo, evacuando pilotos abatidos, e sabotando as linhas de abastecimento e os centros de produção das forças de ocupação.
Sobre a descoberta dos exércitos secretos, o Parlamento Europeu respondeu com duras críticas, suspeitando que estiveram envolvidos em manipulação e operações de terror.
«Esta Europa não terá futuro», abriu o debate o representante italiano Falqui, «se não estiver fundada na verdade, na total transparência das suas instituições no que diz respeito às obscuras maquinações contra a democracia que viraram de pernas para o ar a história, mesmo em tempos recentes, de muitos estados europeus».
Falqui insistiu que «não haverá futuro, senhoras e senhores, se não tivermos afastado a ideia de termos vivido numa espécie de estado duplo – um aberto e democrático, o outro clandestino e reaccionário. É por isso que queremos saber quais e quantas redes “Gládio” existiram em anos recentes nos Estados Membros da Comunidade Europeia».
A maioria dos parlamentares da UE seguiu Falqui, e numa resolução especial de 22 de Novembro de 1990 tornou claro que a UE «protesta vigorosamente perante a presunção por certo pessoal militar dos EUA no SHAPE [Supreme Headquarters Allied Powers Europe] e na NATO do direito de encorajar o estabelecimento na Europa de uma rede clandestina de inteligência e de operações», apelando a «uma investigação total sobre a natureza, estrutura, objectivos, e todos os outros aspectos destas organizações clandestinas ou quaisquer subdivisões, o seu uso para interferência ilegal nos assuntos políticos internos dos países concernentes, e o problema do terrorismo na Europa».

EXÉRCITOS SECRETOS ESPALHADOS PELA EUROPA OCIDENTAL
Apenas os parlamentares da Itália, Suíça e Bélgica formaram uma comissão especial para investigar o exército secreto nacional, e após meses ou mesmo anos de pesquisa, apresentaram um relatório público.
Com base nestes dados e em fontes secundárias de numerosos países europeus, NATO’s Secret Armies confirma pela primeira vez que as redes secretas se espalharam pela Europa ocidental, com grandes detalhes sobre redes na Alemanha, França, Espanha, Portugal, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Itália, Grécia e Turquia, bem como do planeamento estratégico da Grã-Bretanha e dos EUA.
Os exércitos de retaguarda eram coordenados a nível internacional pelo chamado Comité Clandestino Aliado (ACC, nas siglas em inglês) e pelo Comité Clandestino de Planeamento (CPC), ligados ao Estado-Maior das Forças Aliadas na Europa (SHAPE).
E usavam nomes de camuflagem como “Absalon” na Dinamarca, “P26” na Suíça, “ROC” na Noruega ou “SDRA8” na Bélgica. Interessantemente, grandes diferenças existiam de país para país. Em algumas nações os exércitos secretos tornaram¬ se fonte de terror, enquanto noutras permaneceram numa prudente precaução.
Na Turquia, a “Contra-Guerrilha” estava envolvida em terrorismo doméstico e em operações de tortura contra os curdos, enquanto na Grécia, o “LOK” tomou parte no golpe de estado de 1967 para impedir um governo socialista.
Em Espanha, o exército secreto foi usado para apoiar a ditadura fascista de Franco, e na Alemanha, terroristas de direita usaram explosivos do exército secreto no ataque terrorista de 1980 em Munique.
Noutros países, incluindo a Dinamarca, a Noruega, e o Luxemburgo, os soldados secretos prepararam-se para a eventual ocupação do seu país natal e nunca se envolveram em terrorismo doméstico ou manipulação.
No contexto da contínua chamada guerra ao terrorismo, a informação sobre o Gládio promove a perspicácia séria de que os governos no Ocidente sacrificaram a vida de cidadãos inocentes e cobriram actos de terrorismo para manipular a população.
Alegações de que a NATO, o Pentágono, o M16, a CIA, e os serviços secretos europeus estavam ligados ao terrorismo, a golpes de estado, e a tortura na Europa são obviamente de uma natureza extremamente sensível, e futura investigação é necessária no campo.
Na ausência de uma investigação oficial da NATO ou da UE, investigação internacional continuada sobre o terrorismo está prestes a atacar esta difícil tarefa, o primeiro passo da qual espero ter promissoramente dado com "NATO’s Secret Armies".

Daniele Ganser é investigador sénior no Centro para Estudos de Segurança no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça em Zurique.
International Relations and Security Network

Daniele Ganser

NATOs� secret armies linked to terrorism?

Voltaire, international edition

Um comentário:

Anônimo disse...

O gang stalking ou assedio encoverto militar (miles de alvos na Europa), esta tambem ligado as redes Gladio. A derradeira finalidade tambem e o control socio politico dos estados europeus. O gang stalking e um secreto militar da NATO, clasificaçao ultra-secreta, nao e possivel publicar nada nos jornais nem na televisao. Tudo o aparato de seguridade dos Estados Europeus fica envolvido em façer gangstalking para os cidadaos. (Torturas encovertas)